terça-feira, 22 de março de 2011

A Última Gota



É a última gota.
Não posso beber
Nem desistir de preservá-la.
É preciosa, não deixe cair!
É a última esperança de vida.

Eram muitas,
Agora é só uma.
Cristalina,
Pura e alva,
Como nada há igual.

É a última centelha de luz no universo,
A última lágrima a cair.
Todos assistem à queda da última gota:
_ Tanto o último peixe em seu suspiro final,
Quanto o pássaro em seu triste vôo.

O homem é o único
Que não se faz presente
A esse solene acontecimento.
Neste momento
Ele lança sem saber, pela última vez

A última gota d’água.

domingo, 20 de março de 2011

A Tempestade



Depois da última tempestade,
é a primeira vez que venho aqui.

Galhos por todos os cantos,
o céu insinua outro castigo iminente
ou anuncia uma era de meditação,
está nublado.

O céu e a terra em sinergia,
as coisas subvertem sua ordem natural.

O verso não cabe no poema
a caneta não quer escrever
está nublado o tempo.

Não há tempo para recolher os escombros
e a impiedade assombra
está nublado o dia.

Nenhum carro ameaça cruzar a avenida
nem a empregada vai às compras,
está nublado o planeta
e é certo que a qualquer momento
vai chover nas selvas
da infinitésima parte
do universo.