quinta-feira, 17 de março de 2011

Artimanha


Todo mundo veio
para o enterro da esperança.
Todos tristes,
melancólicos,
bucólicos.

Quando tudo parecia perdido
apareceu alguém
que cruzou a porta.

Todos pasmaram com o que viram.
Era impossível!
A esperança estava morta
ou se dispunha em cores
à nossa frente?
O que seria capaz
de explicar aquela semelhança?

No caixão jazia a esperança,
às nossas costas,
disposta a sorrir para todos
estava a ilusão
de que tudo estava
e estaria bem
que acabaria bem.
Eu estava atrás dela.
Reparei que a sombra
dessa senhora
eram meus sonhos.

Meus joelhos não suportaram
Curvaram-se por terra.

Como poderia eu imaginar
que meus sonhos
fossem a sombra da ilusão
que eu não sabia o nome,
mas que sem ela não viveria?

Ela era bela e sorria.
Eu via a minha infância e fantasia,
eu já sabia.
Só não sei por que
me assustei tanto com o que já conhecia.

Todos os dias ela vinha em meu quarto.
Me contava aos poucos
todas as mentiras
que o mundo dizia verdade.
Aos poucos fui aprendendo tudo aquilo
e usando para pôr pedras no caminho
daqueles que olhavam em volta
e não à frente.

Hoje ela não vem mais,
eu já aprendi tudo.

Aprendi as artimanhas
mas perdi o meu jeito de ser.

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